Cuidado Com Corretores de Imóveis Desonestos
- Mauro Souza
- 14 de jul. de 2015
- 4 min de leitura
Se há uma coisa de que não gosto é desonestidade, mas infelizmente lidamos com pessoas desonestas em qualquer ramo de atividade. Você vai a uma oficina e o mecânico diz que o problema de seu carro é a “rebimboca da parafuseta”. Como você não conhece nada de carro, confia no que ele diz e acaba pagando caro por um problema que, às vezes, nem existia. E passar por esse tipo de situação é inevitável na vida de qualquer um de nós: afinal, não conhecemos todos os aspectos de todas as situações por que passamos no dia-a-dia. Não conhecemos tudo, e justamente por isso estamos sujeitos a sermos passados para trás pelos “especialistas” do ramo: pode acontecer com a compra de carros, computadores, piscinas, contratação de serviços bancários, de advogados e… na compra de imóveis. Todo o cuidado é pouco na hora de comprar o lar, doce lar.

Muita atenção com os corretores imobiliários. Como em qualquer profissão, há profissionais honestos e que explicam detalhadamente tudo o que você precisa saber para comprar a casa dos seus sonhos: eles apresentarão todas as informações de que você necessita para tomar uma decisão consciente sobre a aquisição de um bem que, muito provavelmente, será o patrimônio mais valioso da sua vida.
Infelizmente, contudo, há corretores desonestos, que tentarão de tudo para fazer você levar o imóvel. Dirão que é garantida a rentabilidade anual de 25% do investimento e que “nunca antes na história deste país” o preço dos imóveis caiu. Falarão também que o reajuste das parcelas é baixinho, segue o INCC, e que a média “é de 5% ao ano”. E apresentarão um plano de pagamento com prestações que cabem direitinho no seu bolso, mesmo que o valor a ser pago pelas chaves te force a vender o ágio no futuro, por não ter condições de quitá-las ou mesmo financiá-las. Imagine pagar um apartamento que custa R$ 500.000,00 com uma entrada de R$ 10.000,00 e prestações mensais, por quatro anos, de R$ 1.000,00. Fantástico, não é? Pois bem: daqui a 4 anos, você vai ter que pagar as chaves, num valor total de R$ 442.000,00 (e nem estou contando a correção!). Para financiar esse valor no sistema financeiro de habitação, pela CEF, teria que desembolsar aproximadamente R$ 5.045,00 por mês. Bem mais salgado, não é? Mas isso alguns corretores não explicam…
Cuidado com as expectativas de rentabilidade futura que os corretores alardeiam. Ninguém sabe onde eles se informam sobre essas taxas e a regrinha dos fundos de investimento bancário também se aplica aos imóveis: rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Os preços atuais do mercado imobiliário já estão muito altos. Podem crescer ainda mais, mas não é razoável esperar isso: o mercado sempre encontra um jeito de ajustar os sonhos ilusórios de rentabilidade extraordinária à realidade. E o lucro se obtém no momento da compra, não no da venda: se o preço de compra já é alto demais, dificilmente será obtido algum lucro significativo. Também não se engane com a afirmativa de que os preços de imóveis não caem no Brasil. As pessoas não têm base de comparação porque a inflação até a década de 1980 era altíssima, o que dificultava muito saber se os preços subiam ou desciam. Além disso, na década de 1990 não houve valorização tão expressiva quanto a que estamos vendo hoje.

De qualquer forma, há coisa pior, muito pior, no mercado imobiliário. Não há limites para a desonestidade. Há cerca de um ano, quando eu estava procurando um imóvel para morar (desisti! Os preços do mercado de Brasília estão irreais!), passei por uma situação criminosa. Minha esposa e eu estávamos visitando um stand de vendas de um empreendimento na planta e realmente nos interessamos, e fomos discutir as condições de pagamento oferecidas.
Obviamente, eu não fecharia o negócio naquele momento: a compra de um apartamento é algo sério e eu precisaria de tempo para estudar detalhadamente o contrato e as condições de compra. Por isso, pedi uma semana para me decidir. O corretor, já irritado com minha “lentidão”, me disse: “Tudo bem, mas eu não posso garantir que a unidade pela qual o sr. se interessou ainda estará à disposição na semana que vem. Mas vou ver com o supervisor o que posso fazer”.
Cinco minutos depois, ele voltou com um formulário da mão, dizendo: “Vou abrir uma exceção para você. Se você assinar esse formulário, que é apenas uma ficha de cadastro, eu reservo o imóvel até a semana que vem”. Obviamente, eu jamais assinaria um papel sem ler. E, quando comecei a passar os olhos pelo formulário, lá estava, em letras normais, sem destaque: CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. Para quem não sabe, isso significa dizer que as partes se obrigaram a, mais adiantes, fechar o negócio, sob pena de sofrer as consequências previstas no contrato – normalmente, seria obrigado a pagar o valor do sinal, que às vezes chega a 10% do valor do imóvel. Ou seja, depois de assinado o “formulariozinho”, eu teria que desembolsar R$ 35.000,00 (o apartamento custava, na época, R$ 350.000,00) para desistir de um contrato que eu nem sabia que havia assinado. E para quem acha que eu não precisaria pagar nada porque o contrato não foi registrado em cartório: o Superior Tribunal de Justiça adota o entendimento já pacificado de que é desnecessário o registro da promessa de compra e venda para exigir o cumprimento do contrato (Súmula nº 239). Ou seja, depois de assinado, você está na mão do corretor! Ou compra o imóvel, ou paga o sinal para desistir. Obviamente, me irritei com aquilo e fui embora.
E o pior disso tudo é que, pelo visto, não é um caso isolado. Minha esposa já viu corretores fazerem coisa parecida no local de trabalho dela, enganando pessoas que nem sabem o que estão assinando.
Repito: não estou dizendo que todos os corretores são desonestos, mas tome muito cuidado antes de assinar qualquer documento ou de acreditar cegamente nas afirmações deles. Lembre-se sempre de que há um conflito de interesses entre você e o corretor: você quer comprar um bom imóvel, a um preço razoável, numa localidade boa, e o corretor, por sua vez, quer vendê-lo para ganhar a sua comissão. Leve sempre isso em consideração antes de fechar um negócio de valor tão alto. Antes de mais nada, valorize seu dinheiro!
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